sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cuidado: sal demais!

Acordos firmados entre governo e empresas para reduzir o teor de sódio em produtos alimentícios são ineficazes. Ao consumidor, cabe evitá-los no dia a dia, mas, para isso, é preciso que a informação nutricional seja mais clara

IMAGEM DE DESTAQUE

Má notícia para quem sentiu certo alívio quando ouviu falar que os alimentos industrializados teriam menos sódio. Apesar dos acordos firmados entre o Ministério da Saúde e os representantes das empresas de produtos alimentícios, a maioria dos fabricantes não vai precisar reduzir a quantidade desse ingrediente em seus produtos, pois boa parte deles já tem, atualmente, teor de sódio dentro das metas estabelecidas para os próximos anos. Foi o que o Idec verificou ao analisar o rótulo de 530 alimentos industrializados de diversas categorias, entre bolos, biscoitos, batatas palha, maioneses e cereais matinais (veja a lista completa dos produtos no quadro abaixo).

O fato de os alimentos já estarem dentro do patamar estabelecido nos acordos não significa que eles estejam “bem na fita” em relação à quantidade de sódio, pelo contrário. No caso da maionese, por exemplo, boa parte das marcas analisadas contém mais de 1.000 mg do nutriente em 100 g do produto (o equivalente a 10 colheres de sopa, aproximadamente). Nessas colheradas, há quase metade do total de sódio recomendado pelo Ministério da Saúde para um dia inteiro, que é de 2.400 mg. Contudo, as metas de redução para a categoria parecem não levar isso em conta, pois foram fixadas em 1.283 mg/ 100 g para o ano de 2012; e em 1.051 mg/ 100 g até o fim de 2014 (as metas são gradativas e devem ser implementadas a cada dois anos; para alguns alimentos, começam neste ano e seguem em 2015). Das 21 marcas de maionese pesquisadas, 20 (95,4%) não precisaram mover nenhuma palha para cumprir a meta do ano passado, e 11 (52,4%) podem continuar como estão até o ano da Copa do Mundo no Brasil. Veja na tabela na página 28 os resultados dos outros produtos.

De acordo com Patricia Jaime, coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, as metas foram definidas, em 2010, com base nos menores valores de sódio existentes no mercado para cada categoria de alimento. O objetivo é que, até 2020, todas as marcas contenham o teor mínimo de sódio praticado 10 anos antes. Segundo Patricia, não havia evidências de que seria possível adotar metas mais rigorosas. Ela destaca, ainda, que o Ministério não classifica os produtos que atingem tais marcas como saudáveis. Para o Idec, porém, os acordos são superficiais. “A medida é importante, mas, isoladamente e com metas timidamente definidas, o impacto na saúde é muito pequeno”, declara Silvia Vignola, sanitarista consultora do Instituto e responsável pelo levantamento. Ela ressalta que, para ir além de acordos voluntários junto às empresas, o Ministério da Saúde deve articular outras frentes. “É importante que a indústria participe das discussões, mas o governo precisa estabelecer regras para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos e também garantir informação clara ao consumidor nos rótulos dos produtos”, defende.

COMO FOI FEITA A PESQUISA

O Idec verificou os teores de sódio de 530 alimentos de oito categorias que fazem parte dos acordos firmados entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), a Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias, Pão & Bolo Industrializado (Abima), a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip) para redução dos níveis do ingrediente. A análise foi feita a partir das informações nutricionais disponíveis no rótulo dos produtos, consultados no site das empresas.

O levantamento foi realizado em duas etapas: a primeira, em janeiro de 2012, avaliou bolos prontos, rocamboles, salgadinhos de milho, batatas fritas e batatas palha industrializadas, maionese e biscoitos (doces com e sem recheio, e salgados tipo cream cracker e água e sal); a segunda etapa foi realizada em setembro de 2012, quando foram analisados cereais matinais e margarina vegetal. Antes, em maio de 2011, o Instituto já havia feito um levantamento com os alimentos da primeira rodada de acordos (macarrão instantâneo, pão de forma e bisnaguinhas), cujos resultados foram publicados na matéria “Menos sal nos próximos anos. Será?” (edição nº 157 da Revista do Idec http://goo.gl/CiqZT).


Fonte : http://www.idec.org.br

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