terça-feira, 11 de setembro de 2012

Na berlinda

Comissão do Senado aprova projeto que proíbe venda de fast food com brindes infantis.


Os brindes que são vendidos com sanduíches e refeições de fast food são um grande apelo ao público infantil, que, atraído pelos brinquedos, pede e consome o alimento vendido com ele - geralmente, com alto teor de sódio, açúcar e gorduras. Mas esse marketing agressivo pode estar com os seus dias contados.

A Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado aprovou no dia 28 de agosto um projeto que proíbe a venda dos brinquedos associadas aos lanches, sejam os brindes gratuitos ou pagos. O texto ainda será examinado nas comissões de Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais antes de chegar a Câmara de Deputados, onde precisa obter aprovação para ser sancionado.

O autor do projeto, senador Eduardo Amorim (PSC-SE), ressaltou o caráter abusivo deste tipo de estratégia, que promove o brinquedo para chamar a atenção do público infantil, utilizando “um processo subliminar associado à incapacidade de julgamento e à inexperiência da criança”.

As lanchonetes utilizam os brindes, que são às vezes colecionáveis ou licenciados de filmes e personagens do mundo infantil, para chamar a atenção do público infantil, contribuindo para que as crianças consumam estes alimentos não saudáveis de maneira excessiva e habitual. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostrou, por exemplo, que esses combos extrapolam as quantidades indicadas por dia para crianças, podendo conter 70% da quantidade de gordura saturada e sal recomendada para o consumo diário de crianças até 6 anos, com grandes concentrações de gordura trans, responsável pelo aumento do colesterol.

Embora muitas redes de fast food continuem fazendo esta prática, a venda casada de alimentos com brindes já é considerada ilegal. Em dezembro de 2011, o Procon multou a rede de lanchonetes McDonald’s em mais de R$ 3 milhões pela venda de alimentos com brinquedos. O caso foi denunciado pelo Projeto Criança e Consumo em 2010, que ressaltou que o incentivo ao consumo constante deste tipo de produtos acaba por promover a formação de hábitos alimentares prejudiciais à saúde, uma questão muito séria em um país com crescentes índices de obesidade infantil em que uma em cada três crianças de 4 a 9 anos está acima do peso, segundo o IBGE.

Por uma infância saudável e livre de consumismo

Por: Taís Vinha
  
            É inocente acharmos que a educação alimentar de nossos filhos é responsabilidade apenas dos pais ou das merendeiras das escolas. Há tempos, ela vem sendo dividida com os meios de comunicação que, através de comerciais muito persuasivos, ensina-os desde a mais tenra idade a consumir produtos que trazem mais benefícios à saúde do mercado do que à saúde humana.
Assim, assistimos impotentes nossos filhos crescerem sob o bombardeio de mensagens que pregam que refrigerante é felicidade, fast food é para se amar muito, tomar suco em pó é uma atitude que salva o planeta.
           Por mais que controlemos, por mais que optemos por uma dieta saudável, por mais que falemos "não" e desliguemos a TV, é impossível evitar que estas mensagens atinjam os pequenos e acabem fazendo parte da sua formação. Elas estão por todos os lugares e são repetidas à exaustão, como mantras da vida moderna.
            O problema é grave. Crianças são seres vulneráveis. Suas mentes, ainda em formação, não distinguem fantasia de realidade. Elas acreditam nos adultos. Acreditam no discurso publicitário. 
Essa vulnerabilidade não é invenção de pais superprotetores, cientistas radicais ou educadores idealistas. É estabelecida nos Artigos 226 e 227 da nossa Constituição. Que também estabelece que protegê-las é dever da família, sociedade e do Estado. Isto é, o comprometimento com o bem estar e a formação das futuras gerações de brasileiros não é só dos pais e sim de toda a nação. 
           A alimentação é um dos principais elementos para este bem-estar. Hoje temos conhecimento suficiente para afirmar que grande parte das doenças pode ser evitada com uma dieta mais saudável. Doenças que afetam o desenvolvimento cognitivo, que afastam o trabalhador do serviço, que invalidam pessoas em idade produtiva e que, inevitavelmente, acabam cobrando sua fatura do setor público. Portanto, a alimentação deveria ser tratada como estratégica para a soberania nacional e defendida com a mesma intensidade com que o mercado defende seus interesses.
            Os meios de comunicação, na sua maioria concessões públicas, jamais poderiam ser usados para deseducar todo um povo. O problema se torna ainda mais grave quando, além das crianças, vemos os pais também serem atingidos por mensagens enganosas, como a da maionese industrializada que se diz tão boa como o azeite de oliva, do catchup que afirma ser como comer tomate in natura, do tempero pronto cheio de sódio e glutamato que deixa o feijão ou o arroz "igualzinhos ao da vovó" ou do achocolatado que oferece "nutrição completa" para os filhotes chatinhos para comer.
           Os pais são os guardiões da infância. Os filtros. Quando eles são deseducados, a infância fica ainda mais desprotegida.
           Há os que defendam que não cabe ao Estado intervir neste processo, pois os consumidores têm o direito de escolha. Contudo, para haver escolha, tem que haver informação. Informação clara e transparente. Não é o que temos hoje. As informações, quando chegam, são distorcidas e duvidosas. Confunde-se propositalmente os benefícios do suco em caixinha com os da fruta. Biscoito com fonte de vitaminas e sais minerais. Macarrão instantâneo com comida caseira.
          Como pais temos que lidar com temas que não fizeram parte das preocupações das gerações que nos antecederam: obesidade, doenças metabólicas, sedentarismo infantil e puberdade precoce são apenas alguns deles. Estamos confusos, frustrados e ávidos por construir novas referências que nos sirvam de guias por estes novos tempos.
         Ao cobrarmos do Governo uma atuação mais efetiva em defesa dos pequenos, regulamentando com rigidez a publicidade infantil, não queremos tutela. Queremos que o Estado cumpra seu papel em defesa do cidadão diante dos interesses de grandes conglomerados, reequilibrando as relações. E que a proteção da infância seja integral, como estipulam as leis do nosso País. 
Taís Vinha é mãe, publicitária e membro do Coletivo Infância Livre de Consumismo. Você pode entrar em contato pelo email: taisvinha@terra.com.br ou, para saber mais sobre o coletivo acesse: http://www.infancialivredeconsumismo.com.br/
Fonte : site Redenutri acessado em 11 de Setembro de 2012  http://ecos-redenutri.bvs.br/tiki-index.php?page=textopiniaoIII

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

As casas do lobby em Brasília


Lago Sul, o bairro mais luxuoso da capital, abriga residências que se tornaram uma extensão dos escritórios de empresas. Espaços são escolhidos a dedo para receber políticos com discrição.

Os jardins da entrada, as piscinas da parte interna e a ausência de placas na fachada disfarçam o perfil comercial de dezenas de casas usadas para funcionar como entreposto político de empresas de grande porte no Lago Sul. O bairro mais luxuoso de Brasília foi escolhido pelas firmas com maior peso no Produto Interno Bruto (PIB) para abrigar verdadeiros quartéis generais destinados a desempenhar uma das missões mais estratégicas para as empresas: o lobby com o governo.

No quadro hierárquico das empresas, as casas de representação são chamadas de departamentos de assuntos governamentais. Na prática, as residências do Lago Sul funcionam como um oásis de conforto e discrição para que representantes de empresas e autoridades do Executivo e Legislativo discutam assuntos de interesse comum.

Na última semana, o Correio identificou quatro casas de representação de grandes empresas e associações setoriais. Constatou que, no lugar da formalidade dos escritórios, o modus operandi das conversas reservadas entre o setor privado e o setor público requer luxo na decoração das salas, com um toque quase doméstico para garantir uma atmosfera mais descontraída, suporte para a organização de grandes jantares e festas e, acima de tudo, o anonimato de quem entra e sai do imóvel.

Em uma "ponta de picolé" — quando o terreno fica no fim do conjunto com uma metragem maior — da QL 14 do Lago Sul, um imóvel com acabamento inferior às demais residências da quadra praticamente passa despercebido. O portão automático, já velho, demora destravar, mas quando funciona abre a visão para uma ampla garagem e uma bela vista do lago. Os logotipos da Coca-Cola confirmam: a casa é a representação da multinacional em Brasília.

O vice-presidente de Assuntos Governamentais da Coca-Cola, Jack Corrêa, abre as portas da casa e conta sua rotina. "Empresa grande não faz nada de errado." Ele lembra que quando trocou a Fiat, que também tinha sua representação no Lago Sul, pela Coca-Cola convenceu a multinacional da importância de ter um espaço reservado para receber autoridades.

Um dos argumentos era o de que a capital não tinha um centro urbano com grandes edifícios, com estrutura suficiente para abrigar o estilo de cerimonial oferecido nas casas. O segundo argumento encerrava a questão: as autoridades não freqüentariam espaços institucionais, para evitar problemas com as regras de ética pública. "A coisa mais importante não é ter um espaço diferenciado, é ter discrição. Não é possível colocar um ministro para jantar na sede de uma empresa. Quando é assim, o ministro recusa, apesar de não estar fazendo nada errado", afirma Jack Corrêa.

Doações

E o entra e sai silencioso das casas de representação envolve também prefeitos, parlamentares e, até mesmo, ex-parlamentares. Durante o tempo em que o Correio esteve na casa, um suplente de senador, atualmente afastado do exercício do cargo, aguardava audiência com o vice-presidente da Coca-Cola, para discutir a possibilidade de conseguir doação para as eleições municipais.

Entre os pleitos que recebe das autoridades, Corrêa lista pressão de um prefeito de São Paulo, para que a empresa anuncie, antes do fim das eleições, a inauguração de fábrica de embalagens com matéria-prima vegetal, para que o administrador colha bônus políticos do empreendimento privado.

E se os representantes públicos usam o espaço para pleitear seus interesses, a empresa também tem os dela. Jack Corrêa conta que, atualmente no Congresso, a multinacional monitora 850 projetos que afetam direta ou indiretamente os negócios da empresa no país. Uma emenda em um projeto já é motivo para que a equipe de representantes de assuntos governamentais procure o parlamentar autor da alteração. Entre os temas de interesse estão os projetos que tratam de regras para a fabricação de embalagens, discussão da relação entre obesidade e produtos industrializados, propaganda infantil, venda de refrigerante nas escolas, temas trabalhistas, tributários e a política de resíduos sólidos.

Para monitorar os projetos, a empresa conta com equipe especializada no Congresso. No Executivo e Judiciário, outras duas equipes têm a missão de fazer corpo a corpo para pressionar as autoridades em nome dos interesses corporativos.

As festas e palestras realizadas na casa, que tem seu próprio auditório, têm o objetivo de integrar autoridades, representantes do governo e da empresa com a equipe de lobistas que atua diretamente nos Três Poderes. Para organizar as confraternizações na casa do Lago Sul, a firma conta com estrutura própria de cerimonial e contrata shows de grandes artistas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os cinco patrocínios mais hipócritas


Publicado orignalmente dia 29 de agosto de 2012 no blog http://anovaeconomia.wordpress.com/

Por Christopher

McDonalds, Coca-Cola, Walmart, o banco Wells Fargo, o plano de saúde United Health e a empresa de alimentos ConAgra, dentre muitas, tentam associar suas imagens com organizações de cunho social que praticam exatamente o oposto a elas.

Patrocínio hipócrita.

Um recente artigo de Alyssa Figueroa “The Top 5 Most Hypocritical Corporate Sponsors” publicado na revista AlterNet traz casos gritantes de conflito de interesses entre organizações que promovem ações de grande alcance social e corporações que, de fato, remam no sentido contrário e que as patrocinam.

O caso é grave por envolver o argumento de que as entidades da sociedade civil precisam de recursos. Mas, a que preço? Bem, vamos aos 5 casos.

1) McDonalds e Coca-Cola patrocinaram as Olimpíadas de 2012 em Londres.

Este caso provocou grande polemica pela evidente contradição entre uma das missões das olimpíadas, “a promoção da saúde e da atividade física”, e os efeitos nocivos da “fast food” e de bebidas com ciclamato de sódio e/ou açúcar. Isto ocorreu num país onde 60.8% dos adultos e 31.1 das crianças estão acima do peso.

E não é que o prefeito de Londres declarou que: “Trata-se de esnobismo burguês, uma histeria liberal clássica contra alimentos nutritivos, deliciosos e muito bons para as pessoas, fui informado – não que eu os consuma”.

2) Walmart patrocina a “American Cancer Society”.

Por mais que tente limpar sua reputação a empresa é especialmente não sustentável em suas práticas, financia candidatos “anti-ambientais”, oferece e estimula o consumo de alimentos de baixo preço mas prejudiciais à saúde e não tem plano de saúde para a maioria de seus empregados.

3) O banco Wells Fargo patrocina a “Habitat for Humanity”.

Um dos campeões, nos EUA, da retomada de cerca de 4 milhões de imóveis hipotecados em processos em muitos casos fraudulentos e resultado da crise de 2007 provocada pelos próprios bancos.

4) Os planos de saúde da United Health e WellPoint patrocinam a “American Red Cross”.

As duas maiores corporações de seguro saúde dos EUA em conluio com outras do setor fazem lobby, ao mesmo tempo, contra o “Affordable Care Act” que garante acesso à saúde a toda a população e acabam de doar, com o mesmo propósito, USD 100 milhões para a Câmara de Comércio.

5) A empresa de alimentos ConAgra patrocina a “Feeding America”.

A “Feeding America” é a organização americana líder na ajuda aos que precisam de alimentos e tem entre suas prioridades “aumentar o acesso à comida nutritiva e saudável pelos americanos carentes”. E isto nada tem a ver com a ConAgra. A empresa já foi flagrada com salmonela em suas instalações e produtos, etiquetas fraudulentas, e faz lobby para preservar a batata frita e pizzas no almoço escolar e cortar a ajuda federal para alimentos.

Saiba mais aqui.